domingo, 17 de fevereiro de 2019

Escolha
Eu te amo como um colibri resistente
incansável beija-flor que sou
batedora renitente de asas
viciada no mel que me dás depois que atravesso o deserto.
Pingas na minha boca umas gotas poucas
do que nem é uma vacina.
Eu uma mulher, uma ave, uma menina
Assim chacinas o meu tempo de eremita:
quebras a bengala onde me apoiei, rasgas minhas meias
as que vestiram meus pés
quando caminhei as areias.
Eu te amo como quem esquece tudo
diante de um beijo:
as inúmeras horas desbeijadas
os terríveis desabraços
os dolorosos desencaixes
que meu corpo sofreu longe do seu.
Elejo sempre o encontro
Ele é o ponto do crochê.
Penélope invertida
nada começo de novo
nada desmancho
nada volto
Teço um novo tecido de amor eterno
a cada olhar seu de afeto
não ligo para nada que doeu.
Só para o que deixou de doer tenho olhos.
Cega do infortúnio
pesco os peixes dos nossos encaixes
pesco as gozadas
as confissões de amor
as palavras fundas de prazer
as esculturas astecas que nos fixam
na história dos dias
Eu te amo.
De todos os nossos montes
fico com as encostas
De todas as nossas indagações
fico com as respostas
De todas as nossas destilairias
fico com as alegrias
De todos os nossos natais
fico com as bonecas
De todos os nossos cardumes
as moquecas.
Elisa Lucinda

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

enfim lhe dou um nome, fantasia de cor vermelha
mas não ouso pronunciar
você continuaria fazendo a única coisa que lhe vejo fazer desde que nos apresentamos: ir...
então lhe deixo, 
sem interrupções...
essa pressa toda deve te guiar pra um lugar desejado...
então lhe deixo
alí
nem lhe interrompo
pra que chegues mais rápido, alí
o falcão já voa
e eu fico por terra admirando o voo

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Madrugada de um domingo esperado, quase desistido.
A moça dos olhos curiosos quer anular ou congelar, até que decida o que fazer consigo.
Alguém vai deixando de existir dos seus sonhos... E sentamos juntas, vendo o nascer das flores que lhe brotam por entre os dedos.
Enche-o de terra, antes que se mova o passo do personagem fictício.
Pra cada um que vai...
uma flor lhe brota à pele.
Não se deixa nascer espinhos...
Mas se eles teimam em nascer, deseja virar do avesso, e então não espetará os espectadores.
Suas cortinas dançantes se assemelham a vestidos...
Vermelhos corações...
pés passando atrás do palco
som do sapateado desproposital
quantos pés foram enterrados em seu coração?
nem um.
a moça dos olhos curiosos quer voar,
e se despertence dos pertences
a vida lhe vira de ponta cabeça
sacode os bolsos
"estou nua".
não existem bolsos
nem pés
nem corações
nem cortinas
nem pertences.
não pertences.
Não importa...
Já já amanhace e não sabemos o que fazer conosco.
Esperemos brotar a rosa do sol.
Esperemos...

19 de abril

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Tomara que o tempo não engula a gente...

Em verdade o meu pensamento é egoísta: tomara que o tempo não me engula!
Tomara que eu perceba quem sou, e me perca totalmente, antes que alguém tenha de vir virar a ampulheta
Já faz muito tempo e eu estou exausta.
Meus olhos choram palavras em braile, mas quem aqui sabe ler braile? Nem eu sei. 
Choro por mim, por falta de mim, e por excesso de mim. Olho em minhas próprias pupilas, e só olho. Me enxergo pouco. A única coisa que se dilata no escuro entre a íris do eu ser, é a insegurança. Minha maldita companheira ciumenta…

Wara Rêgo, Gabriela. 
Te empresto o meu descaso, pra que assim me machuque.
É como tens me visto, príncipe solitário:
um pote de descaso despejado em toda palavra não dita...

Meus lábios que pronunciam cada frase, dão espaço à minha mente para as lembranças dos seus.

Mas isso tudo não significa nada.

Wara Rêgo, Gabriela

...

Impossibilidade de um amargo gostoso
pode deixar o copo vazio em cima da mesa de mim
(e o corpo embaixo)
mas vem correndo me beijar a boca 

num espaço de dois segundos se dissipa
rápida como as asas do eu colibri

se camufle e descanse em meu peito
despejo todo o meu carinho por entre os dedos
te encho de cheiro,
me encha do teu.


wara rêgo, gabriela

sábado, 26 de abril de 2014

O beijo


Tua boca...
Sim... Tua boca...
O desejo tomou conta de mim
ao beijar tua boca.

Sim...
Os meus lábios ainda pressentem
o próximo toque dos teus.

Boca linda...
Lábios vermelhos...
Desejo trazer junto comigo
Sempre...
Esse sabor de mulher.

Encostei teus lábios nos teus,
As bocas se juntaram...
E se encontraram tão belas...
Tão ansiosas... tão ávidas...

Bebi ali todo o teu veneno...
Bebi ali todo o teu desejo...

Dali, tua pele, sensível ao toque,
se desvendou para minhas caricias...

Meus lábios tocaram a tua pele...
Lábios, peregrinos, visitaram seus refúgios...

Linda mulher...
Lindo desejo...
Deixei algo de mim no teu beijo
que não recupero jamais...

Entrei no teu quarto.

Sentada na cama de calcinha e camiseta,
cabelos soltos...
Beleza sem par...
A materialização da fêmea...
Linda como nunca... fêmea.
Tu falavas e eu...
embriagava-me de ti...
embebia-me de ti...
Prendia-me o olhar...
um ar de sedução...
Assim sob o abat-jour...
Beleza... fascínio.. calor...

Soltei o pensamento...
- Te quero...
O desejo me integrou...
Recebi a tua mão no meu rosto
e a caricia me tocou por dentro.
Entreguei-me.
Deitaste sobre meu corpo...
Um beijo na minha boca...
Suave... mulher apaixonada...
Rendida à magia...
Te afastaste...
Um seio para fora,
colocado sobre meus lábios.
Lábios secos aveludados...
Percorrendo lentamente a auréola
Lábios macios...
Tocando a ponta dos mamilos.
Gemidos... murmúrios...
Arrepios...
Dentes sem força...
Ponta da língua...
Leve...

Corpo perfeito.
As minhas mãos percorrendo
a geografia da pele.
A topografia da carne.
A ponta dos dedos...
A palma das mãos,
em lenta progressão,
por caminhos indecifráveis.
Penugens...
dos braços...
das pernas...
das coxas...

Calor,
teu corpo esta quente.
Cheiro de fêmea...
fragrância...
Prazer.
Sabor.
Todos sentidos presentes
Delicias.

Deitei-me sobre ti.
Tua coxas me tocam os flancos.
As bocas que se encontram,
línguas que se integram.
Sexos que se tocam,
águas que se misturam.
Braços que se enlaçam.
O beijo percorre teus dentes.
Meus dentes pressionam teus lábios.
Súbito um beijo de carinho
no meio do ardor.
Como para buscar a alma
neste mundo de presenças.

As mãos penetram nos cabelos,
sucessivos beijos nas faces,
nos olhos, nos lábios.
Confiança de ser minha.
Certeza de ser teu.
Palavras de carinho e amor.

Os lábios viajam pelo rosto,
enquanto pernas e braços se enlaçam.
Se acolhem, se apertam...
E então um beijo profundo
Um doce sabor...
Encontro de águas..
Sugo teu espirito para dentro de mim...
Entrego o meu para ti...
Os dois se integram num só
na junção dos plexos solares.
Não estamos mais ao nível da pele.

Tua boca exige minha boca.
Os ventres se movem em procura de encontro.
A pele se abre na mistura das carnes.
Músculos que se apertam.
Não existe mais
qualquer conceito de distancia.

As línguas desejam lamber...
Os dentes desejam morder...
A boca deseja sugar...
O pescoço... Os ombros...
Os braços... O colo...
Mordendo e lambendo as axilas...
Abocanhando firme os teus seios.
Sugando prá dentro da boca
Extraindo deles o leite...
A língua, dentro, beijando.
Mordo, te machuco.
Você me arranha as costas...
Puxa os cabelos...
As pernas me apertam...
Diz que me quer...

Eu paro...
Beijos de carinho...
na ponta dos seios.
No colo, na boca.
Te quero... Te amo...

Retomo o fervor.
Alcanço teu sexo.
Te beijo com os meus lábios
os lábios da tua vulva.
A virilha... o anus...
A língua... a saliva...
A ponta da língua...
A língua inteira...
Estremeces...
Imploras...

Encontro tua fonte...
e vou lá no fundo beber tua água...
muita água...
e trago prá dentro de mim...
saciando a sede de teu sabor.
Eu mordo... tudo.
A língua .
Chego no ponto certo.
A boca...
A língua...
Os dentes...
Tu gritas....

Inicias um frêmito crescente...
Puxo teu corpo
para cima do meu.
Com os dedos afasto teus lábios
e entro em ti até o fundo.
Tu me engoles..
Me comes...
O ritmo cresce....

Um grito da alma...
No fundo... paramos.
As bocas se igualam...
Te encho de leite.
Lagrimas... soluços...
Abraço apertado...
Carinho...
- Te amo. Relaxas...
Adormeces em cima de mim.


Calex Fagundes